sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Forma Justa


Sei que seria possível construir o mundo justo
 As cidades poderiam ser claras e lavada
 Pelo canto dos espaços e das fontes
 O céu o mar e a terra estão prontos
 A saciar a nossa fome do terrestre
 A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
 Cada dia a cada um a liberdade e o reino
 Na concha na flor no homem e no fruto
 Se nada adoecer a própria forma é justa
 E no todo se integra como palavra em verso
 Sei que seria possível construir a forma justa
 De uma cidade humana que fosse
 Fiel à perfeição do universo


 Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
 E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

 Sophia de Mello Breyner Andresen,
foto Adrian Donoghue

2 comentários: